Liquefeito.

Transitório, em fluxo, mutagênico, constantemente incostante, que mais pode caber aqui, na mais irreal das realidades, o homem.

domingo, 12 de setembro de 2010

Por favor, sente-se, só não fique muito confortável.

É realmente de estranhar, ao menos de parecer suspeito ou digno de reflexão o autoflagelar daqueles que se põem a problematizar.


Que disposição, que tendência é satisfeita em tal desconforto? Para se caminhar por tal fatigante trilha faz-se necessário estar doente, estar impregnando de paixão, aquela paixão comumente excretada pela filosofia e ciência como não racional; paixão, mesmo que supuséssemos que tal autoimpor-se possui múltiplas razões, é perceptível a necessária  medida de loucura, de phatos, para se pôr ou se propor tal desconforto; à filosofia, nada mais próprio e característico de si que sua incapacidade de acomodar, sua necessidade de movimento, sua genealogia é tormenta; por fim, talvez, tormenta, conflito, desconforto, concatene vida. 

Que nos diria o filósofo de Sils Maria?

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A ressonância do medo no coração dos corajosos.

A tempestade fortalece, alguns grandes mestres já apontaram tal caminho, a dor, a batalha, o pôr-se em desconforto, em luta consigo mesmo, em conhecer-se verdadeira e profundamente - haveria por fim maior desconforto e igualmente maior ganho? A compreensão deste caminho já nos foi como dissemos sabiamente apontada, todavia onde se refugiam suas raízes? Que forças gigantescas podem fazer mover um homem contra seu mais profundo instinto, o de manutenção, de quietude, de prazer e estabilidade da vida? Que vontade, que desejo, que impulso faz um homem subjugar seu bem estar por um contínuo desconforto? - Não seria outrora talvez nosso nem sempre reconhecível medo?

domingo, 15 de agosto de 2010

Escola: Como (NÃO) transformá-la? A falácia dos discursos.

Não é incomum cruzarmos de tempo em tempo com alguns discursos, que promovam ou afirmem a necessidade de se empregar uma transformação no ambiente escolar, tais discursos, são tão comuns como seus erros. Há pouco tempo, no jornal Correio do Povo (SC) um artigo intitulado “escola: em constante transformação”, nos apresentava um destes discursos, que, dentre outras coisas tinha por objetivo: uma compreensão crítica da realidade contemporânea, que preparasse o jovem para o mercado de trabalho e que promovesse a emancipação e autonomia destes estudantes, tendo a escola como agente emancipador.
Cabe após esta constatação a pergunta: Como promover uma educação de qualidade, que promova o livre pensar, a emancipação, a autonomia, quando somos constantemente impedidos, tolidos e coagidos por nossos próprios educadores, a não pensar livre e criticamente? Como desenvolver o pensamento crítico em indivíduos onde o comportamento ideal figura-se pelo passivo, pelo não questionamento?
Nossos educadores, desejosos de transformação, operam não raramente em um caminho inteiramente contrário a qualquer transformação positiva da educação. Em algumas colocações – como no artigo citado - vemos de forma bem clara o intuito de contribuir para a produção “tipos ideais” de alunos, uma forma de pensamento, onde, modelos de conduta, são instaurados “dentro de valores historicamente desejáveis”. Tal empreitada não pode de forma alguma ser coerente com o desejo, ou discurso, de transformação e emancipação de nossos estudantes em pensadores críticos.
Como dar autonomia e possibilitar um pensamento próprio se o objeto de nosso interesse ao educar é o de construir indivíduos modelos? Como o nivelamento pode promover alguma forma de autonomia e pensar crítico?
Autonomia e idealização de indivíduos são neste caso, auto-excludentes.
Longe de qualquer pensamento crítico estaríamos produzindo bons memorizadores, com discursos enlatados, e sem qualquer espécie de pensamento próprio.
O que repreendo aqui não são nossos valores; valores estes, que na multiplicidade de perspectivas, só com muitos cuidados poderíamos falar em coesão. Critico aqui a falácia, o discurso vazio, e a intenção empobrecedora e contraditória de se tentar transformar algo em crítico e autônomo, elogiando ao mesmo tempo a criação de indivíduos desejáveis, de indivíduos mecânicos, ideais, sem inovação.


A pergunta que deveríamos fazer neste caso é, o desejamos da nossa educação? O auxílio para a produção quase artesanal de mentes autônomas e realmente críticas, ou a produção em série e industrial de ignorantes “desejáveis”? Em qual escola você gostaria de ver seu filho ser formado?

Abaixo existe um apontamento, de forma alguma uma "solução", todavia como dissemos, um apontamento:


segunda-feira, 12 de julho de 2010

Uma (SEM) Razão de Viver.

Uma borboleta paira ao vento, lutando contra algumas rajadas que a desviam de um voo cuja rota não conseguimos intuir, luta inutilmente, não percebe este "animal não racional" que suas pequenas asas nunca poderão vencer os fortes ventos, não é capaz de notar a tempestade que se forma. "Criatura ingênua",- pensamos-, nenhum ser racional poria-se a vôo com um tempo desses.
Com toda a certeza morrerá!

Sim;

Morrerá;

Contudo, sem que em ao menos por um segundo, tenha tido pena de si mesma, sem ressentimentos.

Não se trata de uma força diferente que compõe as Opsiphanes bassus, trata-se apenas de - falta de razão - argumentariam "racionalmente" alguns racionalistas amantes das qualidades humanas.


A sobrevalorização da razão como qualidade humana, torna a perspectiva humana soberba frente a qualquer forma de vida quando na na verdade configura-se muito mais como um problema:

"eu tenho consciência, de que existo, de que "sou inteligente", de que sou aquilo que é mais importante, de que vou morrer".

"Talvez fosse preferível, não saber, não ter consciência, nem ser tão importante, pois me vejo impotente, vou morrer..."

"que bicho estranho esse homem, olhe só, se contorce sozinho, olhe, sofre com ele mesmo"

Este outro animal-homem diferente da borboleta utiliza-se de algo chamado razão, isto não o faz melhor, superior, ou mesmo mais evoluído, sua única diferença da pequena borboleta fora a da percepção da própria morte, e do seu sofrimento por esta inevitável condição, se encontra na capacidade de sonhar, sonhar com algo "ideal".


Desse sonho estes animais estranhos, sofredores e constantemente atormentados com sua consciência, idealizam e imaginam um mundo perfeito, até o momento em que finalmente se libertarão daquilo que lhes parece uma carga, um peso, um transtorno, a saber:

aquele medo da morte;

aquele medo da consciência da morte;

aquele pavor de deixar de existir;

aquela vontade de ser divino;

aquela vontade de ser outra coisa;

uma coisa que não morre;






Aquilo que outrora lhes fez humanos;

que outrora lhes fez ir adiante;

Que o medo lhes fez odiar;

Me faz desejar deixar de ser homem, QUERO SER DEUS!


Criatura, profundamente esquizofrênica e megalomaníaca este homem.


No fundo no fundo essas ciaturas estranhas parecem mesmo é odiar a vida.

terça-feira, 22 de junho de 2010

It´s all a joke, it´s all a big joke...

Primeiro perdemos, George Carlin, agora J. Saramago, sei como nossos falecidos autores também sabiam, que é algo absurdo e desprovido de qualquer sentido se indignar com a morte, ao menos até o momento em que esta indignação produza covardia, e nos faça recorrer a invenções imaginárias como "papai noel" ou "Deus".

Minha indignação no entanto é de outra ordem, deixando de lado toda a metafísica, trata-se de perdas de homens incomuns nesse imenso oceano de niilismos e de desprezo pela vida, eram produtores de vida. Seja rindo com G. Carlin ou se emocionando com Saramago, trata-se da perda de genialidade, ainda não replicável por qualquer divindade imaginária.