Liquefeito.

Transitório, em fluxo, mutagênico, constantemente incostante, que mais pode caber aqui, na mais irreal das realidades, o homem.

sábado, 1 de maio de 2010

Ética e Política em Aristóteles.



Questões acerca do pensamento aristotélico em" Ética a Nicônomo".



Qual o significado e o alcance do conceito de bem na filosofia ética e política de Aristóteles?

Qual a melhor forma de viver? Aristóteles elege a felicidade (Eudaimonia) como condição última e objetivo primário da vida humana. Procuramos em igual proporção, a felicidade individual (Ética) e felicidade coletiva (Política), uma indissociável da outra visto que ao homem por excelência ser social lhe é vedada a possibilidade de felicidade fora da vida gregária. (Polis)

O princípio da liberdade não como uma garantia da vida boa, mas condição inerente, necessária da vida boa. A ação deve ser proveniente da reflexão moral não condicionada por elementos externos. A liberdade sozinha não garante a felicidade, mas é uma condição desta.

Como concretizar a felicidade humana individual e coletiva?

Aristóteles não faz menção ao conflito moderno entre público e privado, esta distinção não é feita por ele. A felicidade é concomitante se não é atingida na esfera individual não será alcançada coletivamente e de forma inversa. Novamente como concretizar este objetivo primário e final humano, a felicidade?

Identificando fins que são bons em si, estabelece-se critérios para aquilo que é correto fazer, identifica-se o bem e sua necessidade para subseqüentemente encontrar meios corretos e justos de concretizá-los. Segundo Aristóteles somente a virtude, ou melhor, um homem virtuoso, aquele que age segundo o bem, pautado pelo raciocínio e escolha livre, justiça e amizade é capaz de atingir a felicidade, somente através deste tipo de atitude praticada individual e socialmente é possível atingir o objetivo, felicidade, vida soberana, autonomia.

O cidadão livre e virtuoso deve junto de outros pautar sua vida dentro dos preceitos de justiça e amizade, características essas do homem virtuoso praticante do bem. Pratica ações equilibradas, conjugadas de justiça e fraternidade levam o homem livre a virtuoso e assim de forma clara à felicidade.

Essa busca pelo bem, um bem ligado a excelência, um bem fazer, bem agir, este bem agir para Aristóteles é uma regra fundamental para a vida humana feliz.

“O homem feliz vive bem e age bem; pois definimos praticamente a felicidade como uma espécie de boa vida e boa ação”.

A ação guiada pelo bem é um dos pilares noção aristotélica de ética, política e felicidade humana.

O caráter finalista (Teleológico) da filosofia de Aristóteles no campo da ética e da política.

A ética grega pode ser entendida como uma ética de ajuste, de adequação, uma vez encontrado o seu caminho, o seu lugar, para viver bem, (télos) tudo estaria resolvido. É preciso viver encontrando a sua finalidade adequada. Esta perspectiva ética é tranqüilizadora no sentido da certeza de um local adequado a que se encaixar, partes de um todo sistemático, tínhamos apenas de achar o nosso lugar natural.

Nesse cenário faz todo o sentido uma concepção eudaimonica da vida. Este seria de certa forma o ponto de tangência de todas as nossas finalidades.

Assim os instantes existenciais (aqueles momentos de questionamento moral) serão eudaimonicos se bastarem em si mesmos.

Partindo da finalidade da ação humana, Aristóteles busca encontrar meios efetivos e práticos de possibilitar ao sujeito uma vida que promova a vida feliz.

Fica mais fácil identificar o caráter finalista da filosofia aristotélica quando tomamos por análise o conceito de política, sabe-se que Aristóteles identifica a felicidade como fim do objetivo de realização. Sendo, que o bem supremo da comunidade política deve ser superior a qualquer bem individual, ou seja, a finalidade política sobrepõe-se a felicidade individual. Esta situação é necessária segundo Aristóteles em vista da natureza do homem para a cidadania e demonstrativa para nós no que tange a sua análise teleológica.

Partindo da finalidade “a boa vida”, definem-se os meios do agir, como no caso da superação da necessidade restrita à finalidade da oikia. Esta sendo mero instrumento de um fim superior do zoon politikon.

“O homem se realiza na e pela polis”.

Aqui temos a imagem do quadro do pintor Rafael, onde é retratado Platão (esquerda) apontando para cima, e Aristóteles sinalizando para baixo, este quadro da uma noção das diferentes formas de abordagens destes filósofos, Platão com seu mundo de essesncias e aristóteles trazendo ao mundo sensivel a explicação da realidade.

O que significa virtude para Aristóteles e como pode o homem realizá-la?

A virtude é o conteúdo da felicidade e fim último do agir humano.

Aristóteles a define como: “uma disposição de caráter relacionada com a escolha e consistente numa mediania, isto é, mediania relativa a nós, a qual é determinada por um princípio racional próprio do homem dotado de sabedoria prática”.

Como podemos notar a noção de virtude em Aristóteles esta intimamente ligada à práxis, tanto como instrumento cognitivo de deliberação, assim como exercício de autodisciplina e educação do ethos.

Educação do hábito, pois na visão de Aristóteles, não se considera a virtude como algo inerente a natureza do homem, pelo contrário trata-se de algo construído, um exercício de boas práticas, formando assim o nosso hábito, educar-se para a virtude, é condição necessária a boa vida.

Da mesma forma a virtude ou a ação virtuosa deve ser resultado de uma escolha refletida, na mediania, equilibrando excesso e ausência, promovendo assim o autocontrole. Aqui novamente o juiz da ação não é pautado por uma rigidez moral, ou padrão fixo, trata-se, portanto de sabedoria prática. O sujeito através de sua deliberação livre procura realizar sua ação pelo justo meio. Não há fórmulas universais para a felicidade, ela é alcançada individualmente na coletividade.

Em igual medida os preceitos de justiça e amizade devem permear o processo de deliberação da ação moral, contudo, não existe neste processo de deliberação a rigidez de um princípio universal único.

“na ocasião apropriada, com referência a objetos apropriados, para com as pessoas apropriadas, pelo motivo e da maneira conveniente”

Uma ação é moral quando deliberada pelo sujeito, através de uma escolha livre, mediada pela noção de bem individual e coletivo. Do contrário seja através do ceder aos impulsos, desejos, seja por obrigatoriedade de outra fonte qualquer, o fato é que externa a origem da ação esta deixa de ser um deliberação moral livre, não conduzindo mais ao bom juízo e a eudaimonia.

Por fim, coadunarão os seguintes elementos na noção de virtude aristotélica:

Repetição de ações virtuosas; boa escolha; Exercício da autodisciplina; domínio das paixões; criação de hábitos.

Qual significado aristotélico de liberdade e como esse conceito se aplica às ações morais e à vida política?

“chamamos de livre o homem que tem a si mesmo Por último fim do seu agir e não outro”

Tanto na esfera ética quanto política a liberdade pode ser entendida como atributo necessário, mais uma parte que compõe o todo constitutivo da eudaimonia. Indissociáveis que são, ética e política, assim o são para ambos a liberdade, como um agente reflexivo, ao homem é necessária a liberdade para que minha ação seja moral e não um condicionamento externo.

Como cidadão, assim como a polis também devo ser autárquico, livre e realizado enquanto parte da comunidade da polis. Autogoverno pressupõe intrinsecamente liberdade, ( Eleutheria )e justiça.

Uma cidade de homens de virtude, pautados pelo hábito, é uma cidade de homens livres, ou melhor, de cidadãos livres, dada a natureza do animal político que é o homem.

Qual relação entre ética e política na filosofia aristotélica?

Aristóteles faz distinção entre ética e política, centrada a ética na ação voluntária e moral do indivíduo enquanto tal, e a política, nas vinculações deste com a comunidade. Contudo, sabemos serem inseparáveis tais conceitos. A relação entre ética e política é oriunda do projeto, do equilíbrio, ou busca do nicho eudaimonico a que pertence cada indivíduo e cidadão, tanto no oikos, e plenamente na polis.

Visto da condição dos círculos em que o homem se move como demonstra o próprio Aristóteles, a família, a “tribo”, o trabalho e a polis, mas só este último constitui uma sociedade autocrática.

Daí serem políticas, de certo modo, todas as relações humanas. A polis é o télos e a causa final da associação humana, local da vida soberana. Reflexão moral incondicionada, amizade, a concórdia, e justiça, constituem seus alicerces.

Qual a importância da justiça e da amizade para a ética e política aristotélica?

Parafraseando o professor C. Candiotto, justiça e amizade constituem-se como o “cimento” da vida política na polis. Tais conceitos referem-se a relação social, sendo assim Aristóteles elege estes conceitos como peças mestras, ou guias da boa conduta. Veja aqui que não se trata de uma universalização, contudo condição necessária a boa vivência entre os cidadãos e conseqüentemente da cidade feliz.

Esta unidade orgânica que se constitui na polis só é possível ponderando-se as noções de justiça e amizade:

A amizade produzindo o desejo de comunidade, de igualdade, solidariedade, e benevolência.(segundo Aristóteles com amizade nem se precisaria de justiça)

A justiça cabendo a justa medida, o equilíbrio, a proporcionalidade necessária a todos.


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